José Estan em uma jornada com significado e regeneração de terras
Papo Possível, Edição 1, Temporada 1 | 2024
Bem-vindo e bem-vinda ao Papo Possível! Estou muito feliz que você chegou. Aqui, trocamos visão de futuro que gera otimismo e esperança através de histórias que aspiram um mundo melhor. Seja pelo campo profissional ou pessoal, a visão individual do que é possível é o papo central da inspiração por aqui.
No fim de cada post, sempre compartilho 5 marcas que criam novas possibilidades através de suas visões e valores éticos.
José Estan, CEO da Tropiko.
Tenho a honra de ter José Estan por aqui no Papo Possível. Estan é um empreendedor apaixonado com uma jornada de equilíbrio entre autodesenvolvimento e aspirações profissionais com as startups que ajuda a desenvolver. Espero que desfrutem do Papo Possível de hoje.
Quem é você, segundo você mesmo?
Sou José Estan, tenho 34 anos, nasci em São Paulo e cresci em alguns bairros diferentes da Zona Leste. Venho de uma família de classe média, sendo o filho caçula entre 4 meninos, sendo que os dois mais velhos possuem uma diferença de idade de 10 anos para os mais novos.
Mesmo com muita dificuldade, meus pais conseguiram pagar uma escola particular próxima de onde morávamos e nos incentivavam, na medida do possível, a ter mais hobbies e estudar coisas extras.
Meu pai, do interior do Paraná, perdeu o pai muito cedo e trabalhou desde novo com diversas profissões, como carregador em moinhos de trigo, e, enquanto eu crescia, mantinha uma empresa pequenina que comprava carne, temperava e vendia para padarias e restaurantes. Minha mãe formou-se em Medicina Veterinária pela USP, com grande apoio familiar, especializando-se em Técnica de Vigilância Sanitária e trabalhando em diversos estabelecimentos de laticínios e carnes. Meu irmão mais próximo em idade tornou-se deficiente físico devido a uma causa então inexplicável, levando-nos a frequentar centros de atendimento e apoio para suas fisioterapias por anos.
Neste contexto, tive o privilégio de receber diversos valores que considero interessantes para minha jornada, como o de comer alimentos saudáveis na medida do possível e entender de onde as coisas vêm, que estudar pode mudar a vida das pessoas, que precisamos nos colocar no lugar do outro e apoiá-lo sempre que possível, que temos um país que é diverso, com muitas histórias prováveis e improváveis, entre muitos outros mais. Cresci ouvindo de tudo: MPB, influenciado pela minha mãe; Rock, pelo meu pai; Rap, pelos meus irmãos mais velhos; músicas italianas antigas, pelo meu avô; Metal, por amigos da escola; além de música eletrônica e japonesa, encontradas na internet.
Certo dia, na 7ª série, um professor de física decidiu preparar um grupo de alunos para uma olimpíada de física, seria a 1a participação do colégio de bairro. Fui selecionado, estudei e consegui ganhar uma medalha baixa, mas foi o suficiente para ser convidado por um colégio de elite para fazer aulas gratuitas de reforço para as próximas olimpíadas.
Assim foi, por meses, até que fiz a prova de bolsa de estudos do próprio colégio e consegui um desconto quase total, que possibilitaria que pudéssemos pagar a mensalidade. Era algo 100% focado em FUVEST, o que me ajudou a entrar em Engenharia Mecatrônica na USP, escolhida por um desejo, não muito validado, de trabalhar com bioengenharia.
Logo percebi que não gostava do curso, foquei minha cabeça na empresa Jr, decidi tornar-me consultor. No entanto, no 4º ano, afastado da empresa júnior, com várias matérias reprovadas e me sentindo infeliz com o curso e deprimido, descubro o empreendedorismo, leio um livro do Tim Ferris (The 4-Hour Workweek), largo a faculdade, me junto a um jovem americano e faço parte do nascimento de um e-commerce de vinhos. Eventualmente faço FUVEST de novo (escondido da família), me formo em Administração na USP enquanto tocamos a startup e descubro que empreender é o que quero fazer por muito tempo da minha vida.
De lá pra cá passei por diversos outros lugares: ajudei a acelerar o cenário de empreendedorismo no país, através de palestras e workshops, e levando empreendedores brasileiros para o Vale do Silício 2x, conhecendo muitas pessoas interessantes, na Brazil Innovators. Depois toquei Vendas e Marketing na idwall, uma startup de tecnologias para evitar fraudes de identidade e realizar análises de risco, de 10 pessoas na equipe até quase 500, e um monte de capital levantado.
Recentemente fundei a Tropiko, em conjunto com o Rafael (meu amigo e sócio), uma plataforma de dados e gestão para acelerarmos a regeneração de terras em escala.
Sou DJ, gosto de muitos estilos, mas toco muito House, especialmente algumas coisas mais antigas (os “achados”), e também estou tentando aprender sobre produção musical. Sou fã de audiobooks, tento praticar o pensamento estóico, moro com minha namorada tem pouco mais de 1 ano e estamos planejando nosso casamento para 2025, com lua de mel no Japão (e já com um monte de planilhas feitas e comidas mapeadas para a viagem).
Estan, qual foi o pulo do gato para fazer o quê faz hoje?
Uma série de fatores potencializam ou não nossa jornada. Se não fosse aquele convite do professor de física do colégio, tudo poderia ser diferente. Mas a jornada de empreender passou por influências diversas, como: ver meu pai tentando fazer dar certo a sua empresa de carne, o livro do Tim Ferris, conhecer em 2011 um americano que entendia super bem o conceito de startup e estava arriscando muita coisa de maneira corajosa na Sonoma, trabalhar fomentando o ecossistema na Brazil Innovators, conhecendo diversas pessoas empreendedoras daqui e do Vale, ampliando minha visão. Na idwall pude tentar melhorar nas coisas que errei anteriormente, e ganhei uma visão de que é possível crescer uma empresa com velocidade, além de ter sido uma escola sobre diversidade e gestão.
A rede de apoio que tenho, com as pessoas incríveis que tive a sorte de encontrar e acompanhar nessa jornada, me possibilitou encarar um novo capítulo, empreendendo do zero neste momento.
É claro que existe muito esforço pessoal envolvido no processo, e, se eu fosse dar uma dica, recomendo entender que tudo nessa vida é influenciado pela prática, desde lavar mais a sua louça, a pensar de forma estratégica e até a ser mais empático com o próximo. Nesse sentido, recomendo muito o uso de um framework de pensamento e planejamento de longo prazo para nosso desenvolvimento como pessoa, profisissionalmente e pessoalmente falando. O modelo que uso, e aplico quando dou mentorias, é uma mistura de diversas coisas que vi ao longo da jornada, compiladas de uma maneira que funcionasse pra mim.
“Acredito que uma parte fundamental é encontrarmos sentido para nossa jornada, assim fica mais fácil navegar pelo caos."
Como suas atividades profissionais andam em linha com sua visão?
Anos atrás comecei a refletir mais e mais sobre questões climáticas e suas consequências para nós como sociedade. Já pensei diversas vezes na frase “será que quero ter um filho e trazer uma criança para este mundo caótico?” mas, embora a conclusão sobre ter filho não tenha sido realizada, eu creio que, com o benefício da dúvida e de forma otimista, precisamos aplicar nossa energia para fazermos do mundo um lugar melhor para todos os seres.
Neste sentido, consigo unir em minha vida hoje um tópico que tenho experiência e gostaria de me desenvolver mais, que é a tecnologia e o empreendedorismo, enquanto tento auxiliar na regeneração da nossa terra, em uma mudança positiva, e de quebra aprendo sobre biomas, biodiversidade, carbono, povos originários, história, satélites e diversos outros tópicos. O mercado que estamos, ainda que de maneira não perfeita, é bem mais colaborativo que os demais que já trabalhei até o momento. Isso me faz relembrar sobre a importância de pensarmos de maneira ecossistêmica e como ninguém faz nada sozinho nessa vida.
Olhando para o futuro, como você vê as práticas de impacto positivo evoluindo dentro de sua indústria?
Infelizmente, diversas empresas ainda enxergam práticas sustentáveis como “só o mínimo necessário” e se movimentam apenas quando uma regulamentação as obriga ou percebem que estão perdendo dinheiro. Também vejo a grande maioria dos consumidores com pouco conhecimento e/ou consciência sobre os impactos que nossas pequenas decisões possuem. Alguns até apresentam o discurso da sustentabilidade, mas não conseguem transformá-lo em prática.
"Já ouvi de grandes (e famosos) fundos de investimento que “não investimos em ESG (sigla em inglês para Meio ambiente, Sustentabilidade e Governança), porque não acreditamos que terá o resultado financeiro que o fundo precisa”. Já passou da hora de nos questionarmos sobre o que é o “retorno” e para quem estamos retornando."
Entretanto, vejo uma mudança estrutural acontecendo, um ponto de inflexão, que acredito que será imparável. Vejo pessoas mais e mais engajadas nas questões socioambientais, migrando de outros mercados de atuação para o mercado ESG. São profissionais incríveis se movimentando, querendo aprender mais, se unindo para propor coisas novas e práticas, com olhar de colaboração, como é o caso do NatureHub, um grupo de empreendendores tentando gerar respostas práticas para o cenário Brasileiro. Também tenho conversado com mais investidores tentando aprender e ajudar. Nem tudo está perdido, mas agora é uma questão de velocidade.
Diante dos desses desafios, que tipo de mundo você enxerga como possível até 2030?
Acredito que não teremos soluções concretas até 2030 para a questão climática, mas também acredito que até lá teremos construído redes de apoio e infraestrutura para acelerarmos a mudança positiva nos anos seguintes.
Precisamos pensar de maneira organizada e racional sobre os problemas que temos e quais são as possíveis soluções, transformando intenções em práticas. Se não fizermos isso hoje, com velocidade, será tarde demais, e as mudanças climáticas geram impactos desproporcionais sobre os grupos socioeconômicos mais privilegiados em comparação com aqueles em situação de maior vulnerabilidade financeira.
“Paralelamente, vejo mais pessoas querendo aprender sobre estes tópicos e gerando provocações pertinentes. Outro dia conversava com um porteiro quando ele me disse “José, está quente demais, precisamos parar de destruir as florestas”. Neste dia dormi mais esperançoso."
Como disse, sou otimista e acho que todos devemos ser (mas praticando a ação, e não somente o pensamento). Até pela lógica financeira, estamos vendo um aumento de capital para estas questões, mas precisamos de mais mudanças para acelerarmos a curva.
Como você consegue se manter inspirado?
Me mantenho inspirado conversando com pessoas incríveis, que possuem alguma característica ou habilidade que quero aprender e evoluir. O aprendizado constante tem um efeito incrível na nossa vida. Também me inspiro muito quando tento ajudar alguém, seja em uma mentoria ou em uma conversa sobre a vida.
Escuto diversos podcasts, como Tim Ferriss e Rich Roll, leio diversos livros sobre desenvolvimento pessoal, meditação, futuros possíveis e biografias de pessoas impressionantes (como “O Senhor Esta Brincando, Sr Feynman?”). Tento manter, com constância, hábitos importantes, como: boa alimentação (com alimentos de verdade), a atividade física, um espaço reservado para a prática da criatividade, que no meu caso é exercida através da música, um diário de gratidão e reflexão sobre assuntos da vida, entre outros. Considero estes elementos fundamentais para minha jornada.
Quando as coisas balançam muito por aqui, retorno ao meu planejamento de longo prazo (o de 10 anos que falei acima) e relembro das coisas que me movem, quem eu quero ser e os motivos.
Que tipo de provocação você gosta que as pessoas reflitam?
Sobre o poder transformador de tentarmos nos colocar no lugar dos outros, tendo a certeza que nossa narrativa é cheia de furos e peças incompletas, e que precisamos exercitar o aprendizado constante sobre as coisas, com nossa mente aberta e curiosa.
A vida não é binária, mas sim um grande espectro de possibilidades. Nada é completamente mau, nada é completamente bom. Cabe a nós aprender a navegar nessas mudanças, um aprendizado de cada vez.
E por fim, nos indique uma pessoa que gostaria que participasse do Papo Possível.
Alex Comninos (NatureHub)
Muitíssimo obrigado por compartilhar sua jornada até aqui e sua visão de um futuro possível e mais otimista.
5 Marcas que Inspiram Transformação
NatureHub fomenta empreendedores do setor de soluções baseadas na natureza (SBN) para mitigar as mudanças climáticas
Raisely capta recursos para instituições de caridade, tudo de graça.
Gorilla Power cria snacks de banana do Sertão do Nordeste. Todos os produtos são upcycled, nutritivos e locais.
Japas Cervejaria, liderada por 4 nipo-brasileiras, ressignifica suas origens através de suas cervejas.
Ethical Consumer fornece recursos e informações para o consumo consciente.
Tamojunto!
Kadu Nakashima