Você é uma pessoa no trabalho e outra na vida pessoal?
A vida atualmente nos provoca a dividir quem somos. Momentos ao longo do dia a dia que moldam nossos comportamentos e trazem ruídos sobre a nossa identidade. Esse texto é sobre essas influências.
Salve leitora, Salve leitor,
São Paulo, 13h01, 24.06.25
Esse terceiro post desde que o PAPO POSSÍVEL mudou ponto de vista e foco está sendo escrito de São Paulo. Depois de 1 ano e meio fora do país, sinto que estou em um cabo de guerra, onde EU sou o cabo. Parte de mim, agradece e valoriza a nossa cultura rica de diversidade e abundância nos gestos, nas comidas e na mistura. Outra parte, questiona toda hora como poderia viver diante de tanta distração entre o senso de atraso, da pressa sem motivo e a insegurança invisível que me assombra até dentro do uber. Me sentir como o cabo de guerra é resistir e adaptar o tempo todo mantendo a consciência que a vitória é permanecer sendo como e quem sou. Boa leitura!
Colocar um crachá muda muita coisa.
A forma como falamos. Como nos vestimos. Até como sentamos.
É como se, ao entrar no modo trabalho, a gente colocasse uma roupa invisível de “versão profissional” e deixasse do lado de fora partes nossas que fazem a gente se sentir inteiro.
Essa história de virar “dois em um” sempre me incomodou.
Eu nunca consegui separar as versões de mim.
Nem queria.
Já tentei fazer atividade física antes do trabalho.
Terapia depois.
Até Muay Thai, pra tentar bater em alguma coisa que não fosse um sentimento.
Mas o trabalho continuava ali, rondando a cabeça.
Mesmo depois do expediente, mesmo nas férias.
Foi aí que comecei a desconfiar de uma coisa:
Será que o problema tá em tentar separar tanto assim?
E se o caminho não for dividir, mas integrar?
Quando aceitei que sou uma pessoa só, as coisas começaram a fazer mais sentido.
Com os mesmos valores, desejos e ideias — dentro e fora da rotina profissional.
A sensação foi de leveza.
Como se eu parasse de brigar comigo mesmo.
Onde surgem as melhores ideias
Se você também sente que seu cérebro não desliga nunca… tamo junto.
A minha mente vive a mil.
Minha terapeuta já falou isso umas cinco vezes.
Só que eu percebi uma coisa com o tempo:
As melhores ideias não nascem no meio da pressão.
Elas aparecem quando eu tô caminhando na rua.
Cozinhando feijão lá na Espanha.
Tomando banho, com a cabeça em outra camada.
Entendi que isso não era coisa da minha cabeça. Bem, em partes, porque é neurociência.
O professor John Kounios explica que o cérebro tem dois jeitos de resolver um problema.
Um é o caminho analítico, quando a gente pensa com foco, tentando encaixar peça por peça.
O outro é o caminho do ✨insight ✨
É o tal do “eureka”.
Que, segundo ele, não tem nada a ver com esforço mental.
Surge do nada, quando a mente relaxa e faz conexões espontâneas.
Isso me ajudou a confiar mais no meu próprio ritmo.
Parar de forçar produtividade o tempo inteiro.
E entender que a criatividade gosta de pausa.
Gosta de corpo, de silêncio, de respiração.
A engrenagem engole gente
Lá atrás, na Revolução Industrial, inventaram o uniforme, o crachá e o horário fixo.
Tudo isso tinha um propósito: organizar as pessoas como se fossem peças da mesma máquina.
Quanto menos identidade, mais eficiência.
O operário ideal era aquele que seguia a ordem sem questionar.
Sem pensar muito. Sem sentir.
Sabe aquela cena clássica do Chaplin sendo engolido pela engrenagem em Tempos Modernos?
É isso.
De lá pra cá, a gente evoluiu muito. Mas a lógica, em alguns lugares, é a mesma.
Muita empresa ainda contrata função, e não pessoa.
E aí a gente acaba atuando, tentando caber, se encaixar, performar um personagem.
Eu mesmo me ferrei várias vezes fazendo isso.
Tentando ser o que esperavam de mim, batia emocionalmente.
Às vezes, literalmente: cotovelo raspado, canela machucada, ego abalado.
Ser você inteiro ainda é visto como ousadia
Ser 100% você em todos os ambientes ainda soa como desafio.
E talvez seja mesmo.
Mas é também a única forma de viver uma vida coerente.
Claro, tem gente que precisa separar as esferas pra manter a sanidade.
Especialmente em lugares tóxicos. Entendemos, não?
Mas se existe espaço pra você ser quem é, talvez a pergunta seja outra:
Como posso integrar o que sou em tudo o que faço?
Um exercício que pode abrir portas
Talvez o que esteja te esgotando não seja a quantidade de trabalho.
Mas a energia gasta em manter uma versão que não é sua.
Essa divisão parece proteção.
Mas também pode ser uma prisão.
Quero te propor um exercício simples. Chamo ele de:
O que eu deixo do lado de fora?
Escreve aí num papel:
Existe alguma parte de mim que eu escondo ou reprimo quando estou trabalhando?
Essa parte é bem-vinda fora do trabalho?
O que me impede de trazê-la para o meu dia a dia profissional?
Depois, pensa em formas pequenas e possíveis de trazer isso pro jogo.
É simples e prático.
Seja usando mais o seu humor nas conversas, se vestindo com mais autenticidade, ou simplesmente dizendo o que pensa com um pouco mais de coragem.
Aos poucos, sua energia volta.
Sua criatividade volta.
E a vida parece mais sua de novo.
Se esse texto fez sentido pra você, comenta abaixo:
O que você costuma deixar do lado de fora quando tá no modo trabalho?
Eu sou o Kadu Nakashima e esse foi mais um PAPO POSSÍVEL
Te vejo lá no YouTube.
Ou aqui mesmo, no próximo texto.
Tamojunto. Paz.
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