Adri Quintas em encontro com amor próprio e suas marcas positivas
Papo Possível, Edição 2, Temporada 1 | 2024
Que prazer ter a Adri Quintas por aqui no Papo Possível. Seu olhar curioso sobre o desconhecido torna sua jornada de vida repleta de amor próprio e sensibilidade com sua personalidade de liderança. Adri compartilha suas travessias em um tom pessoal, aberto e ilustrativo sobre suas experiências de ser mulher independente e inquieta. Espero que curtem do Papo Possível de hoje.
Adri Quintas, Head de Design na Meiuca.
Adri, para começar compartilhe um pouco sobre você
Sou uma mulher brasileira, uma eterna aprendiz. Adoro fazer coisas pela primeira vez. Talvez, seja uma comprovação de que sempre fui curiosa e inquieta. Sabe aquelas pequenas coisas que nos fazem sentir vivos? Então, fazer algo pela primeira vez é isso para mim.
Somos em 3 irmãos, na verdade 1 primogênito e 2 mulheres na sequência. Eu sou a do meio. Somos todos designers (sim! meus pais têm propriedade em falar que fazem designers rs).
Pelo lado da mãe, minha avó foi mãe-solo. Saiu de casa por ter engravidado e batalhou muito para criar minha mãe. Pelo lado de pai, tenho uma família de estrutura tradicional.
Meus pais se conheceram na faculdade. Tiveram meu irmão e ambos deixaram os estudos de lado. Para eles, criar uma família foi mais importante que terem suas realizações pessoais. Talvez seja por isso que minha mãe me criou para ser uma mulher que vive a sua vida.
Sou a primeira mulher que se formou em uma faculdade, tem casa própria e conquistou a independência financeira e emocional.
Penso que essa condição me fez observar as oportunidades que a vida me traz. Sempre fui de abraçar tudo, sentido que sempre há oportunidades de aprendizados e evolução.
Comecei a trabalhar com 15 anos. Lembro de ter trocado as férias de janeiro por um estágio que surgiu do nada. Pensava na grana e como poderia transformá-la em uma poupança para os estudos.
Foi assim que dividi o tempo na minha adolescência:
Trabalho pela manhã e à tarde, faculdade à noite;
Finais de semana ia em shows de hardcore
Ou assistia filmes baseados em fatos. Hobbies que carrego até hoje.
Tenho 36 anos. Morei toda minha vida em Curitiba e curti viver aqui por muito tempo. Com a pandemia, passei a entender que o local onde vivemos impacta diretamente no nosso estilo de vida. Tenho uma visão de ter uma vida mais calma e solar no futuro próximo já, condição que não encontro por aqui.
Tenho fases de cores favoritas e das pessoas que me influenciam. Acredito que são correlações com os meus momentos e reflexões da vida.
Dentro do universo de design, me inspiro na simplificação e o John Maeda é uma grande referência. Foi com ele que aprendi o conceito dos 4 quarters da vida.
Segundo ele, a vida tem 4 blocos de 25 anos cada (0-25 anos, 25-50 anos, 50-75 anos e 75-100 anos). Que me fazem pensar que a maioria das pessoas não chega ao último bloco.
Ao mesmo tempo, o segundo bloco é o mais definidor da nossa vida, o período da vida que a gente não pode desperdiçar. Nosso corpo já se torna mais fragilizado no terceiro enquanto, no primeiro, ele ainda está em formação.
Outra figura que sempre admirei é a Hebe Camargo. Lembro de quando era criança esperava para assistir o programa dela nas noites de segunda. Vejo nela uma referência de mulher independente, que se posicionava em temas diversos. Me ajudou a me moldar como uma mulher na sociedade.


Qual foi o pulo do gato para fazer o que faz hoje?
Às vezes, a gente acha que ter uma estrutura familiar tornaria tudo mais fácil na vida. No final, cresci com pais indisponíveis emocionalmente para mim que colaborou para minha independência. Ao mesmo tempo, amadureci antes do tempo. Assumi responsabilidades que não eram minhas e desenvolvi um hábito terrível de não pedir ajuda.
Aprendi a ter calma em situações de alto stress, mas também aprendi que meus problemas resolvo sozinha.
Por exemplo, quando caí de skate e quebrei o braço, lembro de estar esticada na pista procurando no Google por uma ambulância enquanto poderia só ter pedido para alguém fazer isso por mim. No dia, me achei uma mulher forte e calma, mas não é algo que me orgulho → no sentido que não preciso aguentar toda barra sozinha.


Essa foi uma das pautas do meu sabático. Dez meses sem trabalhar, me permitiu acessar profundezas que deixava por debaixo do tapete chamado vida cotidiana.
Gosto de pensar que meu sabático foi literalmente meu Comer, Rezar e Amar. Comi muito em Minas Gerais, feijão feito por mãos quilombolas e queijo de mulheres empreendedoras. Rezei no Pará. Fiz meu pedido no Círio de Nazaré, participei de rituais xamânicos na Amazônia. Encontrei o amor: meu amor próprio.
Como suas atividades profissionais andam em linha com sua visão?
Já fui programadora de software, atuei como gerente de projetos e foi o design que deu sentido para minha jornada profissional. Mesmo gostando muito do que faço, pausei a carreira quando me vi de um lugar que não fazia mais sentido algum.
Durante o sabático, tinha certeza que não voltaria para uma empresa. No entanto, fiquei assustadoramente animada com a oportunidade de trabalhar no estúdio de design que estou hoje, a Meiuca. Sempre admirei o trabalho deles por se posicionarem em um espaço de responsabilidade social como designers, além claro da qualidade do que entregam.
Nesse momento, a chave da experimentação também se tornou evidente. O sabático confirmou exatamente o que não quero para minha vida, ao mesmo tempo que abriu várias coisas que estou me permitindo vivenciar, como conhecer todos os estados do Brasil.
Viver a vida nos marca com diversas cicatrizes, eu escolho deixar uma marca positiva por onde eu passar.
Olhando para o futuro, como você vê as práticas de impacto positivo evoluindo na área que você trabalha?
Sejamos francos, trabalhar com alinhamento de valores é muito difícil.
É duro ter consciência de que fazemos parte de um sistema capitalista, em que, na maioria das empresas, seus valores culturais que deveriam unir as pessoas acabam se perdendo no cotidiano, nas demandas e nas metas a serem cumpridas. Olhando de forma objetiva, alinhar os valores próprios ao da empresa é quase um ato de resistência.
Hoje, posso trabalhar com a tranquilidade de estar em uma empresa que assumiu esse lugar de resistência, inclusive como parte do seu posicionamento. Na minha visão, essa escolha faz com que a empresa contrate e assine contratos com critérios mais esclarecidos e praticados, evitando desalinhamentos de valores e projetos indesejados.
Que tipo de mundo você enxerga como possível até 2030?
Acredito que estamos em um momento da sociedade em que nem todos os formatos de trabalho se adequam a todas as pessoas. Nem todo mundo se sai bem no presencial, assim como nem todos funcionam bem no home office.
Esse é apenas um exemplo pequeno. Noto que pouquíssimas empresas perceberam que estamos passando por uma mudança nas relações com o mercado de trabalho.
Vejo uma tendência crescente de papéis part-time e pessoas responsáveis pela felicidade dos colaboradores. Na minha visão, isso se traduz que precisamos nos apresentar cada vez mais como produtos e serviços. Ou seja, como monetizamos nossas habilidades e temos uma marca pessoal.
Existem funções que serão cada mais difíceis de serem justificadas na folha de pagamento full-time. No design, isso tem crescido e penso em como o design tem se tornado cada vez mais um serviço (design as a service). Sem dúvidas, essa tendência de qualquer coisa as-a-service deve crescer muito nos próximos anos.
Quando discutimos a felicidade dos colaboradores, estamos falando na verdade de métodos e ciência relacionados ao bem-estar coletivo. Vivemos em um mundo saturado que adoecem pessoas e, convenhamos, pessoas com bem-estar em dia fazem coisas incríveis acontecer.
Como você consegue se manter inspirada
Hoje, minha maior fonte de inspiração é o Brasil. Estou em uma fase de conhecer mais a nossa cultura, origem e histórias. A gente é tão rico de cultura, de música, de arte e estamos sempre olhando para o estrangeiro.
Acredito que criatividade é repertório, amplitude e curiosidade. É sair sem grandes objetivos e deixar a vida surpreender.
Minha mãe tem uma frase que carrego comigo: “Vida me surpreenda”.
E assim as coisas vão aparecendo de forma inesperada e enchem o baldinho de viver e ser criativa.
Falando sobre técnicas , uso duas coisas que aprecio bastante são as páginas matinais, que descobri no livro "Caminho do Artista”. A outra é a prática diária da escrita que me ajuda a organizar e conectar meus pensamentos.
Além disso, descobri outra técnica chamada "Sozinho, Junto" com o Alex Bretas, uma autoridade em aprendizagem autodirigida no Brasil.
É assim…basicamente, você marca com outra pessoa um espaço na agenda para cada um desenrolar suas atividades individualmente. O fato de estarem juntos elabora um compromisso e, com isso, as coisas tendem a fluir de forma mais simples e rápida. É uma boa técnica para estudar, porque você pode sintetizar tudo que aprendeu e praticou com a sua companhia.
Que tipo de provocação você gostaria que as pessoas refletissem sobre?
Bem, eu não sei muito bem se é um questionamento. Tenho refletido bastante sobre conceitos contemporâneos sobre o que é felicidade. Vejo que crescemos em uma sociedade meio Disney, como se existisse um conceito único do que é ser feliz e é uma pura utopia.
A felicidade também está entre os altos e baixos da vida, de abraçar uma vida imperfeita.
Quem são as pessoas de qualidade que gostaria que participasse do Papo Possível?
Fiquei pensando e não voltei aqui. Algumas sugestões:
Leo Dabague: é uma das pessoas mais inteligentes que trabalhei. Sou fascinada por sua hipersensibilidade e como vê a vida. Gosto muito que ele estuda alguns temas (geralmente ansiedade, propósito, journaling, segundo cérebro, IA) e vive compartilhando alguma pílula por aí, mesmo que informalmente, acaba inspirando.
Daniel Furtado: é uma das pessoas mais divertidas que conheço pela internet. É um cara que dedica há anos uma parte da vida para ensinar design. Criou o UX Now, um canal que boa parte de quem é designer acabou se formando por lá. Uma pessoa que é criativa, tem uma rotina interessante. É um influenciador que parece amigo, porque ele nunca faz para se gabar e sempre por compartilhar e agregar.
Carol Rissio: mais uma pessoa que passou a compartilhar coisas na internet de uma forma muito dela e eu gosto muito. A Carol é produtora audiovisual, começou a empreender depois de passar por uma série de outros desafios, de RH à product manager. Nos últimos 6 meses, ela teve uma temporada nos EUA estudando sobre produção/vídeo/empreendedorismo e foi super legal acompanhar. Ela é mega interessante, desabrochou lindamente dessa migração de carreira.
Sou muito grato por compartilhar sua visão de mundo e as travessias de vida até aqui. Acredito que boa parte das pessoas que lerem se sentirão mais esperançosas e também se identificarão com seu jeito de enxergar e fazer as coisas. Espero que inspire transformações.
Tamojunto!
5 Marcas que Inspiram Transformação
Foodprint inspira os usuários a diminuir o impacto ambiental dos alimentos.
Managalo Agloflorestal restaura de áreas degradadas, aliando o reflorestamento à produção e comercialização de alimentos.
Trópica oferece cursos fundamentais para práticas de agricultura regenerativa em solos tropicais.
Recconect co-cria culturas organizacionais de bem-estar, com mais significado, saúde mental e felicidade dos profissionais, gerando aumento na produtividade e engajamento.
Watershed ajuda empresas a diminuírem suas emissões de carbono
Kadu Nakashima1
Kadu Nakashima oferece serviços de branding e marketing digital para marcas éticas.