André Senna em O Poder do Ativismo Digital na Formação das Novas Gerações
Papo Possível, Edição 7, Temporada 1 | 2024
André Senna, gerente de produto e doutorando em Comunicação e Práticas de Consumo.
Nesse Papo, compartilho uma conversa com André Senna, um profissional-acadêmico que transita entre publicidade, tecnologia e educação. Ele reflete sobre o ativismo digital, as complexidades do consumo e a importância de apoiar as novas gerações. André te convida a pensar sobre o futuro e as desigualdades sociais, oferecendo uma visão crítica. Prepare o cafezinho ou aproveite o tempo no trânsito para uma leitura que inspira reflexão sobre mudanças de perspectiva.
O tempo estimado de leitura é de 7 minutos.
Senna! Por favor, apresente-se à vontade.
Meu nome é André, também conhecido como Dé, André Senna, Senna ou Senninha. Apesar de atender por muitos nomes, sou uma pessoa só, uma pessoa millennial tecnológica que trabalha, mas nasceu pra vadiar.
Apesar de ser uma pessoa só, já assumi muitas facetas no trabalho. Sou publicitário de formação, especializado planejador de propaganda, passando por marketing de influência, e hoje atuo no setor de tecnologia como gestor de produtos educacionais. Também sou doutorando em Comunicação e Práticas de Consumo, minhas pesquisas na área problematizam o ativismo digital e o consumo de inteligências artificiais.
No tempo livre, estou consumindo por aí, conteúdos em séries, livros e jogos, em cinemas, bares e restaurantes.
Nesses tempos onde está cada vez mais difícil distinguir o que é publicidade e o que é experiência, também estou com dificuldades de saber quando estou trabalhando e quando não estou. Seriam essas marcas da nossa geração?
Sempre gostei de estudar muito e colocar aquilo que estudei em uma prática. Belo dia, meu amigo Kadu Nakashima me perguntou: como você separa o eu profissional do eu pessoal se você é um eu só? Desde então, me esforcei pra não criar fronteiras entre esses dois eus. Por um lado foi bom, pude crescer na carreira e também impactar outras carreiras, seja na convivência, seja no ensino. Por outro, quando estou desorganizado em casa, me desorganizo no trabalho.
Estou quase sempre à disposição e fiquei mais sensível às críticas, levando elas quase sempre ao lado pessoal. Não dá, gente(!). Por isso, principalmente depois da pandemia, investi mais tempo no desenvolvimento do corpo e das emoções mais do que o intelecto. Fui fundo na prática da yoga, onde pude aprimorar essa relação com o corpo e também com a própria espiritualidade. Sou ateu desde criança, mas entendi que desenvolver a espiritualidade, ter fé em si mesmo e na sua capacidade e da família de se aprimorar e viver em harmonia com o espaço ao seu redor… é isso o que me sustenta hoje. Então, com o crachá devidamente guardado no escritório, gosto de contemplar a vida, em casa ou no corre, sozinho ou no rolê.
Sou natural de São Bernardo do Campo, o ABC da zona metropolitana de São Paulo. Assim como eu, é uma cidade com muitos nomes: São Bernardo, Bernô, Samber, São Bernoia, São Berlondres, Bernocity, SBC. Por ser perto da capital, é pulsante e diversa, apesar da densidade urbana menor. Dá pra sentir isso no ar da cidade, uma energia mais leve. O ar, por sinal, traz um senso de mistério, especialmente nos dias de neblina. Quem procura poesia no cotidiano, sempre encontra algo que vale a pena. Quem não desenvolve esse olhar, se perde no loop das degenerações, drogas e desigualdades. Infelizmente, só famílias estruturadas emergem do caos.
São Bernardo, assim como todas as cidades da zona metropolitana, se urbanizou muito rápido e num ritmo caótico. Se liga na contagem populacional dos últimos seis censos:

Senna é um sobrenome de família, da parte de pai, que se mudou de Alegre (ES) pro ABC paulista nos anos 70. A motivação é a conhecida das aulas de história e geografia: mais oportunidades de trabalho. A questão é que havia muita demanda por trabalho, mas a oferta de empregos bons e estáveis estava separada para uma parcela privilegiada daquela sociedade.
Coincidência com os dias de hoje? Nada é por acaso.
Meus avós, meu pai e meus tios conviveram com a pobreza, a falta de serviços básicos, a fome, a violência característicos de cidades recém urbanizadas. Foi assim que criaram seus valores próprios de comunidade, redes de apoio. Estudaram bastante, conseguiram empregos privilegiados e transcenderam a estatística. Essa perseverança e esse senso de cuidado com os seus foram herdados por mim, minha irmã e meus primos. Também tenho outro sobrenome. De Nardi, do meu avô materno, que entre risca-facas e cigarros encontrava tempo pra cortejar a minha avó materna e sustentar a casa com uma pequena fábrica que ambos administravam. Foi assim que eles educaram três filhos, que depois se tornariam educadores e criariam mais filhos educadores.
Não tem jeito, família cria pelo exemplo. Foi observando o comportamento e os valores de cada um deles que construí meus ideais. Quando vim pra São Paulo, em 2009, colocar essa visão em prática foi fácil até. A gente subestima o poder de aprendizado do exemplo.




Por onde você transitou até chegar aqui com o que faz hoje?
Herdei responsabilidades. Nossa família tinha expectativas grandes de ver a gente expandir o legado, crescer na carreira, acumular riquezas. Eu sempre gostava de propaganda, de criança repetia os números da tele sena na TV, me encantava com as luzes e trilhas sonoras dos comerciais. Decidi relativamente cedo a faculdade que queria fazer. Quando enfim me tornei publicitário, percebi que fazer propaganda é apenas 5% do trabalho, que envolve muito mais gerenciar relacionamentos. Cursar comunicação é pra quem sabe se comunicar. Acertar na entrega e gerenciar relacionamentos é emocionalmente exigente.
Meu primeiro trabalho em agência foi em 2010, como planejador de propaganda, trabalho que exerci até 2017. Época da explosão da social media, agências oferecendo gratuitamente um braço de digital pros clientes fecharem contas, poucos sabiam mensurar resultados e entregar campanhas eficientes.
Fazia-se publicidade digital da mesma forma que o offline. Não se falava sobre aprimorar habilidades emocionais. Nessa busca, voltei à origem familiar e acabei caindo na educação em 2019, em uma startup que ensina pessoas a trabalhar com produtos digitais, análise de dados e design.
Nesse ciclo, ganhei confiança nas apresentações, entendi que o ato de aprender é contínuo e que bons profissionais digitais atuam para resolver os problemas das pessoas. Nunca saí da publicidade, mas fiquei mais distante como freelancer. Fiquei feliz de saber que o mercado também buscou de aprimorar, principalmente nesse lugar da gestão e das habilidades interpessoais.
Hoje, aprimorar o trabalho das pessoas é um grande motivador da minha linha profissional. Faço um pouco de tudo, com foco especial na gestão de produtos digitais educacionais.
Quão alinhado você entende que suas atividades profissionais estão com sua visão?
Todos nós trabalhamos pelo dinheiro, pelo sonho da riqueza. Tem quem foca nessa missão, fecha o nariz e trabalha muito, sem sucumbir à pressão. Eu tentei fazer isso, não consegui. Não tenho estômago pra ser executivo, por exemplo. Aceitar isso foi muito importante pra mim. Afinal, é possível exercer a educação sendo executivo? Dá pra maximizar lucro e aprendizagem ao mesmo tempo? Não sei e não quero mais saber. Se conseguir gerar esse tipo de reflexão na minha rede, já fico feliz.
Por isso que tomei duas decisões importantes em 2024: uma foi de cursar doutorado, de problematizar os discursos de aprendizagem no campo do consumo. E outra foi de me juntar ao time de produtos digitais da Sankhya, onde ajudo empresas de médio porte a criarem suas próprias soluções de aprendizagem e se tornarem mais competitivas. Há quem diga que são ideais excludentes, e talvez sejam.
Nossa sociedade vive na base das contradições, quando consumimos, afirmamos identidades, quando afirmamos identidades, falamos sobre aquilo que somos e também o que não somos. É na intersecção dessas complexidades que encontrei a paz no meu trabalho.
A Sankhya é uma empresa de ERP, uma suíte de softwares voltados a automatizar e melhorar a gestão das empresas, do estoque aos recursos humanos. Os planos de crescimento são ambiciosos, e eu chego com a difícil missão de acelerar o crescimento da categoria de produtos educacionais. Tudo isso em alinhamento aos valores culturais da empresa, que foi fundada antes de eu nascer. Me conquistaram pela flexibilidade, consigo trabalhar e gerar valor enquanto me dedico aos estudos e problematizações. Eu não consigo salvar o mundo, mas consigo salvar o meu mundo, melhorar a vida das pessoas e amizades ao meu redor, e esse trabalho é quem melhor patrocina esse sonho.
E, que tipo de mundo você enxerga como possível até 2030?
Prever o futuro é um desafio, porque o futuro é uma projeção do presente, e o presente muda a todo momento, portanto, o futuro muda também. Por isso, acho que vale olhar para o passado. Somos a primeira geração do mundo que tem mais pessoas na cidade do que no campo. Cidades são pulsantes em cultura e experiências, mas também são mais competitivas e aceleradas. As desigualdades no mundo também aumentaram, a concentração de renda cresce a rodo desde 1980. Os ricos se tornarão cada vez mais ricos e a tirania das autoridades tende a ser maior. O sistema vai trabalhar cada vez mais para aprimorar o sistema. Nós, como agentes do sistema, provavelmente não ficaremos mais ricos do que já estamos. Nossa população está envelhecendo, ficaremos mais frágeis. Espero que essa leitura não evoque desesperança, mas que seja um motivador para ação. Eu aposto na nova geração. Apoio e incentivo a juventude, que vai usar as ferramentas de IA pra levantar causas, impor limites no trabalho, ir para lugares que nós não tivemos o estômago para trilhar. Nossa tarefa é, portanto, viver e inspirar a viver. Incentivo que juntem dinheiro, comprem imóvel, reduzam custos, abracem as novas gerações nos espaços de convivência.
3 Referências Que Inspiram Transformação
Fridays For Future movimento jovem, liderado por Greta Thunberg, que protesta contra a apatia dos governos sobre as mudanças climáticas.
Curso de graduação em design de sustentabilidade da Ubiquity University com a Gaia School. Os cursos têm versões em português.
A marca suíça de acessórios e bolsas, Freitag, lançou seu primeiro produto que consiste de apenas uma matéria prima, sendo uma bolsa circular, reciclada e 100% reciclável.
Prosperidade coletiva,
Kadu Nakashima1
Kadu Nakashima ajuda a desenvolver marcas e lançar produtos de forma colaborativa.
Aprendendo com esse texto maravilhoso do Senninha ❤️